- Por favor, você tem trinta dessas canetinhas hidrocor? - disse Maria Cecília ao vendedor de uma papelaria.
- Sim, algo mais? - disse o vendedor.
- Não.
- O caixa fica a sua esquerda.
- Por favor, pensei melhor e quero sessenta.
- Quantas?
- Sessenta.
- Vou pegar no estoque.
...
Meia hora depois Maria Cecília chega ao apartamento de uma amiga.
- E aí? Feliz Ano Novo! Aqui estamos.- disse Maria Cecília entregando uma caixa.
- Feliz Ano Novo, amiga! Tem as trinta aqui?
- Tem o dobro.
- Mas pra quê?
- E se alguma falha ou acaba antes de uma semana?
- Tá bom, mas que é um exagero é.
- O que sobrar a gente divide pras crianças levarem.
Conversaram durante algumas horas e Maria Cecília despediu-se. Ao chegar em casa, Maria Cecília abriu as alvas cortinas da janela da sala de seu apartamento e fitou os olhos a um barraco distante, talvez uns trinta anos. Eram dois cômodos.
- Dona Ana, a senhora tem uma folha de papel branco? - disse a menina.
- Tenho não. - disse a senhora.
- Hum...
- Ah, tenho um pedaço mas tá muito empoeirado.
- Eu limpo. - disse a menina.
Já era tarde da noite quando a menina vê a mãe chegar.
- Mãe, você trouxe as canetinhas?
- Não, a dona Vera é muito ocupada, minha filha.
- É... - disse a menina com um vento cinza no olhar. Mas ela disse pra senhora se vai comprar?
- Disse sim.
- Quando?
- Minha filha, dona Vera vai viajar de férias, não sei quando ela volta.
A mãe não viu o vento cinza, não viu nada, mais nada. De tão cansada e imaginando a próxima faxina que faria no dia seguinte, adormeceu. A menina guardou o pedaço de folha que ainda estava um pouco úmido e adormeceu também.
Aos poucos, uma chuva serena envolveu aquele fim de tarde ensolarado e Maria Cecília percebeu melhor o tempo, o movimento.
Acolheu-se...
...
Na semana seguinte, numa comunidade não longe dali, uma menina desenhava um jardim.