segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

A vida de Estela

O plano de fundo da área de trabalho mostrava duas árvores, quase unidas, onde não se viam os troncos, mas galhos e galhos e galhos e folhas e folhas e folhas. Ao fundo, um largo rio e, na outra margem, mais verde e verde e verde. Fim de tarde, uma chuva fina, fina e fina. Estela virou-se e foi, sentada na cadeira com rodinhas, em direção à janela. Pessoas saíam do prédio que ficava logo a sua frente, em passos que pareciam mais largos e largos. A hora era ir embora. Uns em direção a outro expediente, a maioria em direção as suas casas, e os outros ela nem imaginava. E ela, ela nem imaginava. Aquele trabalho era pequeno, pequeno, pequeno, pequeno... Aquelas pessoas pareciam pequenas. Ela parecia mais pequena que todos os pequenos. Revirou-se e a tela do computador continuava a mesma. A mesa era a mesma. A sala era a mesma. O prédio era o mesmo. E ela era a mesma. Apoiou os cotovelos sobre a mesa. Apoiou a cabeça sobre as mãos estendidas. Acostumou-se em apoiar-se em si mesma.