Depois de mais ou menos um ano, a despedida foi repleta de luminosidade.
Antes, a chegada deles...
Quando você trouxe a encomenda, eu disse obrigada.
Animada, pediu que eu experimentasse.
Naquela tarde nublada, era novembro de 1988, o corredor que separava a sala dos três quartos parecia um caminho desconhecido. Talvez, o abrigo seguro de um último fio não encontrado. Talvez.
No quarto, ao tirar o lenço suavemente florido que envolvia a cabeça, percebi a leveza da encomenda.
Do lado de fora, você perguntava:
- Já experimentou?
Sem olhar a encomenda, coloquei-a e, timidamente, abri a porta.
Rapidamente, levou-me ao espelho do banheiro que ficava ao lado do quarto e, delicadamente, penteou os cabelos dizendo:
- Pareço uma dama de companhia, uma ama daqueles filmes antigos, e você está igualzinha uma princesa.
- Eu?
- Além de macios e naturais, esses cabelos têm uma luminosidade, né?
Meus olhos profundos de nascença elevaram-se, aos poucos, ao encontro da luz que aqueles fios guardavam.
Com o passar das nuvens sombreadas, os fios tornaram-me mais e mais brilhantes. Talvez, nunca saberei de quem eram mas, nos meses seguintes, eles também eram meus.