segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Para você

Oi, como estás?
Espero que bem.
Eu? Ah... Até ontem, cansada. Sei que é uma fase, sei que passa, sei que... Acho que um dos meus problemas é esse sei. Essa coisa esquisita de fazer terapia comigo mesma. Será que já falei isso pra você? Fiz terapia durante um bom tempo e estudei muito sobre isso, o que realmente penso ser muito bom. Tentar descobrir o porquê de algumas reações pode ser um monólogo muito evolutivo. Mas até isso tem me deixado cansada. Não acho que a ignorância salve, mas pode até distrair. No domingo, tomei um café da manhã lá no Daniel Briand. O croissant continua o melhor da cidade e a paisagem em volta continua linda, apesar da seca. Depois, fui caminhar no parque Olhos d'Água. Engordei nos últimos tempos. Remédios para tirar dores dão nisso, né? A gente fica inchada. É isso mesmo inchaço e cansaço, só pode ser isso, rs... Não, não é mesmo, pois o cansaço vem de antes. Em um almoço de família, sentei-me perto do Seu Antônio. Um senhor interessante, com olhos brilhantes, apesar do câncer no estômago. Todos comendo horrores e ele lá sem poder comer nada sólido. Nessas horas, acho meu cansaço uma bobagem imensurável. Tenho vergonha. Conversei muito com ele, pois como ele veio para cá em 1956, imagina o quanto ele tem pra contar, né? Ele disse que durante um bom tempo na construção de Brasília só existiam homens, parece que só depois de um ano é que começaram a chegar as mulheres dos trabalhadores. Disse que era tanta poeira e tanto vento. Disse, também, que na construção daquele prédio do Congresso, eles fizeram primeiro toda a estrutura de aço para depois colocarem tijolo e o restante necessário, e que lá de sei lá quantos metros de altura, muitos e muitos operários caíam e quando ele olhava tava só um capachinho no chão e que rapidamente alguém chegava com uma lona preta e levavam o morto pra onde ele não soube dizer. Disse que teve um dia que ele viu dois caminhões cheios de malas que deveriam ser desses operários mortos.
Hoje, choveu a madrugada toda. Uma chuva educada, sabe? Acordei tão bem.... Sinto-me disposta, serena, viva!!! É tão reconfortante ver como já está tudo quase verde a minha volta. Conte-me de você. Continua com aquele jeito discreto?
Beijos e fica com Deus.
S.

3 comentários:

Karen disse...

adoro quando recebo notícias asssim.
bjs!

Bel disse...

Esse teu jeito narrativo de escrever me encanta, S.
Muito me encanta. Gosto da leveza e afetividade impressa nele.
Um beijo, Bel.

Elga Arantes disse...

Seu texto parece um sopro leve no pé do ouvido da gente.
Sempre é muito gostoso ler as coisas que vc escreve.
Saudade de vc, sumida!