sexta-feira, 8 de agosto de 2008

BRAVO!

Moravam na mesma cidade e já haviam sentido aquele friozinho na barriga de quem espera por um telefonema no fim da tarde de uma sexta-feira. Naquele ano, ainda não existia celular, bina, nada que identificasse quem fizesse uma ligação. Quando o telefone tocava na casa, ela corria pra atender. Do outro lado, sempre era a mãe ou alguma amiga querendo um bate-papo. Outras vezes era engano. Outras vezes quando ela pegava o telefone a ligação já havia parado. Ela começou a sentir-se ridícula pela corrida ao telefone. Iniciou, assim, uma série de questionamentos. Como uma balzaquiana, independente, responsável e inteligente, corria à espera de uma ligação?

Ele era um homem meio desligado. Não conseguia guardar o nome das pessoas. Números de telefone, então, nem pensar. Até o da própria casa já havia esquecido uma vez. Porém, também era independente, responsável e inteligente. A angústia causada pela última ligação recebida perdeu-se no tempo. Ele não esperava mais.

Era setembro de uma quinta-feira chuvosa. Cansada, saiu do trabalho sem se importar com o tempo ruim que estava lá fora. A chuva aumentou quando estava próxima ao Teatro Nacional e resolveu parar o carro ali mesmo. Observou que haviam muitos carros estacionados e lembrou-se de que era dia de concerto. Decidiu abrir sua sombrinha e assistir. Seus passos foram corridos, pois percebeu que já iriam impedir a entrada. Meio esbaforida, sentou na primeira cadeira vazia que conseguiu avistar.

Após algumas peças executadas, eis que surge o concerto para piano nr 15 em B maior KV. 450. de Mozart. Ela fechou os olhos e deixou-se absorver pelo colorido esfuziante que aquele instante permitia. Fim de concerto, muitos bravos, e ela foi a última a sair do Teatro. Parecia não querer sair dali.

Surpreendeu-se quando encontrou uma amiga do trabalho que tinha aversão à música clássica. Após alguns minutos, um dos músicos da orquestra aproximou-se e abraçou sua amiga. Ela sabia que sua amiga era separada, então concluiu em poucos segundos que os dois poderiam ser namorados. E por poucos segundos, achou que poderia ser até interessante duas pessoas parecerem tão diferentes e estarem juntas. Outros segundos passados, sua amiga apresentou seu irmão e a convidou para acompanhá-los. Extasiada, ela aceitou. Enquanto sua amiga preparava o jantar, eles conversavam. Era tanto assunto que sua amiga acabou dormindo. Trocaram o número do telefone e o dia seguinte era uma sexta-feira.

7 comentários:

Claudia Pimenta disse...

oi sheyla! hummm, vc sabe que sou casada com o irmão de uma amiga? a história me fez lembrar do nosso começo... e adorei! bjs, querida!

Sheyla disse...

Claudia,
Hum...fiquei curiosa para saber a história, rs...
Bjs.

Bel disse...

Sheyla...
Já passou! Bem sei que as coisas de lá não são só pra mim. Mas meu carinho e admiração pela Cris me faz não querer ceder assim tão fácil. Tudo já está indo ... junto com a maldade e o rancor dos outros que não são de lá. O vento sopra e já soprou em mim. Obrigada pelas palavras de carinho. Fizeram-me muito bem
Quanto aos toques das esperadas (e, antigas) sextas-feiras ... hoje são como caixinhas de música. Um passado possível de ser tocado e lembrado...assim afetuosamente como tu fizestes. Um trim...e o mundo se abria em luz e cor...lembro-me bem...também.
Um beijo, bel.

Claudia Pimenta disse...

oi sheyla! na verdade, conheci minha amiga (cunhada) bem antes do meu marido... mas, em um belo dia, como o da sua história, algo inesperado aconteceu - e foi em um show! e estamos juntos há quase 18 anos! dá uma olhadinha neste post:
http://pepperinfashion.blogspot.com/2008/06/absolutamente-disponvel.html
acho que vc vai entender... bjs, querida!

Elga Arantes disse...

Oi Sheyla,

Adorei.

Vou começar frequentar as apresentações de música clássica aqui do 'Palácio das Artes'. Quem sabe essa balzaquiana aqui não espera alguma coisa de uma sexta feira à noite, nas próximas semanas...

Risos.

Cynthia Falabella disse...

ei Sheyla...vim te visitar, muito bom! olha so meu blog mudou de nome agora é:
levesimpressoes.blogspot.com
bjos!

Layz Costa disse...

Ai que linda, parece com a minha historinha. *-*
Que lindo esse post, delicado.

O amor é assim, uma caixinha de surpresas loucas. :}