terça-feira, 30 de setembro de 2008

Para Estamira

Uma fantasia na MISSÃO
Ou o reino da compreensão?
A VERDADE ABSTRATA
Ou o real que maltrata?

Apenas um provocatório
Ou um clamor pelo alienatório ?
A contenda com DEUS
Seria para os COPIADORES e os ateus?

No alfabeto daquele cenário
Quem seria o emissário?
O exposto ALÉM da paralisia
Ou uma quimera na estesia?

O CONTROLE REMOTO seria lendário
Ou estaria com o PERVERSO do orçamentário?
Talvez és uma LUCIDEZ que desatina,
ESTAMIRA, A COLUMBINA.

http://www.estamira.com.br/

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

A vida de Estela

...
Maria Cecília enxergava-se emparedada numa estrada inacabada e extraordinariamente inviável.
Captava a velocidade das imagens que passavam fugazes pela tela.
O lugar incerto e a impressão de um encontro marcado.
O sentido patético: produto da mobilidade desconstruída.
A travessia e o desconserto transportavam inclina e repulsa.
O fluxo de consciência.
O ultrapassar das fronteiras por linhas sutis.
A inação na visão abismal.
A certeza de que qualquer um poderia estar lá: difuso, desenraizado.
A redenção.
A aproximação ao isolamento alegre.
O surgimento de novas forças insondáveis.
A grandeza da não-classificação.
A não-miopia.
A LUZ!

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Calliandra

Caminhamos pela Água Mineral,
Estamos bem, é terça-feira de um mês qualquer,
Celebramos o abono matinal,
Você me fala daquele sonho, confiante, que irá acontecer.

Um barulhinho enquanto eu sorrio,
- Ah, é o joão-de-barro e o tucano-açu que a tua esperança aquiescem,
Fascinados, brindamos aquele cenário
E somos adubados pelas sementes que alvorecem.

Passa um senhor e diz um bom dia musical,
Sentimo-nos bem-aventurados,
Percebemos nele um bendizer fraternal.

As borboletas e os pardais anunciam:
-Amêndoa do baru, araticum, buriti,
gabiroba, jatobá, macaúba, pequi,
Temos todos esses frutos aqui.

De repente, paro diante daquele quintal,
Calliandra, a flor-do-cerrado, um tesouro em cristal,
Revela-se para mim:
- Felpuda, na cor de carmim.

sábado, 20 de setembro de 2008

FRAGILIDADE

A sujeira poderia estar escondida em algum canto ou bem abaixo de alguma rede. Mas não, ela estava lá: esparramada. Por mais que virasse pra outro lado, não tinha jeito, ela estava mesmo era escancarada.
Na noite anterior, a chegada.
- Sim, o hotel é bem confortável e agradável. Recomendo.
Na primeira manhã, um café repleto de guloseimas típicas daquela região.
- Adoro tapioca e cuscuz.
- E a dieta?
- Eu disse um até logo, rs...
Dia ensolarado e calor agradável. A temperatura parecia perfeita, nada escaldante. Domingo, 14 de setembro de 2008.
Tempo de abrir os braços. Tempo de agradecimentos. Tempo de sorrisos.
A brisa do mar, os pés na areia e nós...
Nós caminhávamos...
Enquanto meus pés eram acariciados pelas águas do mar, meus dedos afagavam a areia. Como era seguro aquele encontro...
Sentia-me confiante, liberta de medos. E como era bom estar ao lado da pessoa amada.
Pensava na minha Alegria, mas sabia que ela estava bem. Na despedida, no aeroporto, ela já não chorava mais como das últimas vezes. Quem continuava chorando era eu.
- Mas nem foi uma semana?
- Sim, mas amor e saudade a gente sente, né?
Chegamos muito cedo ao aeroporto. Era sábado, mas eu imaginei que era sexta.
- É, continuo meio enrolada com nomes, datas e horários...
Daí pensei no engarrafamento, meu pai reclamando da quantidade de carro. Que nada! Trânsito tranqüilo, muito tranqüilo. Quando me dei conta, percebi que teríamos quase duas horas de espera pelo vôo. Dentro do carro, minha Alegria sugeriu uma brincadeira.
- Tia Sheyla, enquanto o avião não chega, você pode brincar com o tio Timothy.
- O quê?
- É, você pode brincar de pique-esconde, igual a gente brincou, ontem, lembra?
- Ah, é...rs...
Na noite anterior à viagem, minha Alegria, uma amiguinha e eu brincamos de pique-esconde. Elas escondiam-se e eu tinha que descobrir o esconderijo secreto. Esse passava por dentro do guarda-roupa, embaixo da máquina de costura, etc.
- Ah, se tudo pudesse ser resolvido numa simples brincadeira, né? Adorei a sugestão. Mas, fomos tolos em não colocá-la em prática.
A fome chegou, já eram quase duas da tarde, e muitas barracas com uma estrutura boa à nossa frente. Fomos, sentamos. Nada pensado. Era pura fome de comida, de alimento e só! Uma senhora muito gentil corria de um lado para outro. Eram muitos os pedidos. Quando chegou a nossa vez, escolhemos um peixe que tinha delícia até no nome. Pronto! Pedido feito, agora era só esperar. Sem pressa. Sem nenhuma pressa.
E foi aí que alguma coisa começou. Eram eles, os ianos.
- E?
- E, que eu não queria ver.
- Isso tem aqui, porque não teria lá.
- Tô cansada disso, de saber que tem aqui, que tem lá, que tem em todo lugar. E acho pior quando são eles.
- E daí?
- Daí a gringolândia!
- E quando deixou de ser?
Silencio... Lembro-me de Patativa e o coração ói, ói, ói!
- Já em Canoa, tudo muito lindo! Mas haviam os ães.
- E daí?
- Um deles conversava com um nativo da região. Enquanto o primeiro arranhava um português de arrogâncias, o outro parecia deslumbrado.
- E?
- E eu não acreditava no que via. Daí, um guia turístico disse que enquanto os anos são conhecidos como o primeiro mundo, os ães acham-se os top, e quando encontram um nativo e ingênuo, nada melhor para massagear o ego deles.
- Faz sentido!
- Ah, inventei de comentar sobre os ianos e o guia disse que, infelizmente, uns 95% deles vêm só para aquilo mesmo.
- Um absurdo!
- Uma Sodomorra lá, aqui, em quase todos os ...
- Mas, conta mais...
- Adoramos o Dragão do Mar!
...

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Mais uma afirmação semelhante a tantas outras.
-"Não me arrependo de nada".
....
-Ah, eu? Eu desconfio dos não-arrependidos.

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

E o sapato?
E a roupa?
Sentou-se à cama, levou as pernas junto ao coração, abraçou-se.
Enquanto apoiava o rosto nos joelhos, ela sorria....
Um sorriso terno e bonito de se ter.
Há tanto tempo um encontro não acontecia...
O CD da Annie Lennox à mão e a música “Waiting in vain” pra repetir sei lá quantas mil vezes.
Para ela, tudo tinha uma trilha sonora.
Lá fora, até o céu e as estrelas aguardavam aquele encontro.
Algo dizia e ela sentia que aquela espera não seria em vão.

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Pararam o carro no acostamento mais próximo. Decidida, ela disse que não poderia mais continuar. Num movimento brusco, abriu a porta do carro. Ele, atordoado, também saiu. Teriam menos de duas horas. Lá fora, uma ventania bagunçava qualquer ordem preestabelecida. Os cabelos sempre escovados pareciam saltar de sua cabeça. Olharam-se... Sorriram... Ele sabia da mania que Maria Cecília tinha em manter cada fio no seu devido lugar.
Segurou-a para si e beijaram-se...
Os carros passando...
A culpa e o medo esvaindo-se com o vento e, aos poucos, tudo voltava a respirar cuidadosamente.
As mãos dadas...
Um vôo intraduzivelmente real!

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Quando penso que naquele ponto reside um grifo, o descanso me vem de outros ânimos, aqueles a quem posso confiar.
A arrecadação trouxe um pouco de alívio para os entes da pequena Bruna, sem contar os três frascos já garantidos para amanhã. Um tal de DDAVP. Nunca tinha ouvido falar. A mensagem do dia é: um frasco por cento e noventa reais e trinta e um centavos para quem ganha quatrocentos reais. A dor de cabeça que não passava há meses, depois o desmaio. E por que não fizeram logo a tal tomografia? Ah, porque esta é a realidade do dia-a-dia. Bruna, 8 anos, a mesma idade da minha alegria.

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Vã, Mente?
.
Em ti?
.
Fim
.

terça-feira, 2 de setembro de 2008

No último sábado, já passava das 9 da noite, quando percebi que gotinhas de chuva cantavam à janela. Chamei minha alegria, estendemos nossas mãos e sorrimos, sorrimos muito. Depois de cento e vinte dias sem chuva, a pouca água que caía era um grande acontecimento. Com certeza, mais um dos pequenos milagres da vida que nos acordavam ao contentamento.

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Abriu a pequena mala e colocou poucas peças de roupa. Pegou a boneca que mais gostava e guardou-a junto ao vestido mais bonito que tinha. Olhou seu quarto e despediu-se daquilo que não poderia levar. Observou as almofadas em formato de coração que enfeitavam sua cama e chorou. Eram vermelhas com babadinhos brancos. Todos os dias, sem que ninguém percebesse, pedia a Deus que a resgatasse daquela cidade rodeada de morros e espinhos. Aos quinze anos e três meses de vida, tinha urgência. Os pais pensavam ser apenas um mês de férias, porém, antes da partida, avisou: “nunca mais volto aqui”. Eles não acreditaram. Aos nove anos, quando da mudança de sua terra natal para aquela outra cidade, ela disse: “Esse lugar para onde vamos só nos trará tristezas”. Eles também não acreditaram. Agora, aos quinze, ninguém tiraria dela a escolha pela vida. No ônibus, aqueles olhos fundos e embaciados voltavam, aos poucos, a sorrirem. Não pensou se os tios não iriam acolhê-la. Não pensou em mais nada. Era ela, Deus e a pequena mala. E isso bastava. Quase ao final das férias, decidida, falou aos tios que não retornaria. Divididos, aceitaram-na. Muita coisa aconteceu, e muito, muito tempo depois, ao encontrar-se com sua prima, ouviu a seguinte confissão: “não gosto daquele lugar, sinto saudades daqui, de onde era feliz”. Maria Cecília nunca entendera porque um casamento seria capaz de fazer com que seus pais e outros parentes fossem para aquele lugar. Mais de quinze anos passados, enxergou a tristeza no olhar de sua prima, quase vinte anos mais velha do que ela, mas entendeu que aquela mudança insana de antes quem havia escolhido era ela. Teve vontade de colocá-la em seus braços e mudar todo o roteiro daquela biografia. Lembrou-se da sua intuição de menina e pensou: "se tivessem escutado o que disse?" Mas era tarde demais.